Nos primeiros dias de dezembro, durante o último Conselho de Classes dos professores numa
escola estadual, houve discussão sobre aprovação ou retenção de alunos do
nono ano. Em dado momento, o histórico de um aluno é exposto e a Coordenação questiona se seria retido ou não. O aluno apresentava
quatro disciplinas com conceito abaixo de 5 (cinco). As alegações para
sua reprovação circularam por aspectos morais, tais como "bandido",
"drogado", "preguiçoso" e "mal educado". Com aclamação da maioria dos
presentes decide-se por reprová-lo, mas para isso acharam melhor alterar
o histórico do aluno para evitar um pedido de recurso na secretaria.
Alteraram as faltas e as notas do aluno, de modo a maquiar seu
desempenho para algo "pior" do que havia ali. Seguiu a reunião do Conselho. Próximo ao final da lista de alunos da mesma sala deparou-se com o
histórico de uma aluna com conceito "vermelho" em quatro disciplinas e
com excesso de faltas. Novamente questionado pela Coordenação, o corpo de professores alega que ela é "comportada", "bonita", "capaz de
acompanhar um Ensino Médio". Um dos professores lembra a todos que a
aluna não frequentou a escola no último bimestre, pois cabulava aula
para sair com colegas pelo bairro. Ainda assim alteraram as notas e as
faltas da aluna para que fosse aprovada. O primeiro aluno era negro
morador de uma comunidade carente. A segunda, branca moradora de um bairro mais central.
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quinta-feira, 10 de dezembro de 2015
Instituição escolar e racismo
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sábado, 5 de dezembro de 2015
Universidades nos EUA reveem seus vínculos com a escravidão
Universidades nos Estados Unidos da América reveem seus vínculos com a escravidão
"A Universidade de Georgetown mudou o nome dos edifícios dedicados a reitores que venderam escravos para saldar as dívidas do campus no século XIX. Os edifícios Mulledy Hall e McSherry Hall serão chamados de Freedom e Remembrance (liberdade e lembrança) até que se encontre um nome definitivo. Na de Yale, os estudantes pediram que o mesmo seja feito com a escola Calhoun, dedicada a um político sulista racista e defensor da escravidão.
O movimento estudantil herdeiro dos protestos contra a violência policial que nasceu em Ferguson em 2014 aponta agora para a fachada de dezenas de edifícios nos campi que levam o nome de políticos vinculados à fase mais dolorosa da história norte-americana. Suas reivindicações seguem a mesma lógica que levou o Capitólio de Charleston, na Carolina do Sul, a retirar a bandeira confederada depois do assassinato de nove afro-americanos em uma igreja da cidade. [...]
Apoiados neste argumento, o movimento estudantil em Missouri, Yale e Princeton propõe uma forma de reparar os danos da escravidão. Entre sua lista de reivindicações, além de mudar fachadas, está incluído o cálculo de quanto ganharam ou economizaram as universidades graças à mão de obra escrava, ajustar o valor à inflação e investi-lo em bolsas de estudos".
"A Universidade de Georgetown mudou o nome dos edifícios dedicados a reitores que venderam escravos para saldar as dívidas do campus no século XIX. Os edifícios Mulledy Hall e McSherry Hall serão chamados de Freedom e Remembrance (liberdade e lembrança) até que se encontre um nome definitivo. Na de Yale, os estudantes pediram que o mesmo seja feito com a escola Calhoun, dedicada a um político sulista racista e defensor da escravidão.
O movimento estudantil herdeiro dos protestos contra a violência policial que nasceu em Ferguson em 2014 aponta agora para a fachada de dezenas de edifícios nos campi que levam o nome de políticos vinculados à fase mais dolorosa da história norte-americana. Suas reivindicações seguem a mesma lógica que levou o Capitólio de Charleston, na Carolina do Sul, a retirar a bandeira confederada depois do assassinato de nove afro-americanos em uma igreja da cidade. [...]
Apoiados neste argumento, o movimento estudantil em Missouri, Yale e Princeton propõe uma forma de reparar os danos da escravidão. Entre sua lista de reivindicações, além de mudar fachadas, está incluído o cálculo de quanto ganharam ou economizaram as universidades graças à mão de obra escrava, ajustar o valor à inflação e investi-lo em bolsas de estudos".
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domingo, 22 de novembro de 2015
anotações num diário de campo
1- Refugiados:
Assisti o filme "Uma boa mentira" (tem no
netflix!); fala sobre um grupo de crianças
refugiadas e de como foram suas vidas quando adultos: é emocionante, ainda mais
porque os atores são os refugiados! Vale a pena assistir.
2- Racismo:
Uma amiga linda, com seu cabelo black power, é
chamada na rua de cabelo de Bombril e constantemente ofendida por estranhos,
dizem pra ela alisar o cabelo, é uma ignorância tamanha a afirmação que somente
cabelo liso é bonito e aceito.
3- Machismos....
Nesse quesito tenho várias histórias, mas uma em particular
me chamou atenção.O
segurança da escola que trabalho, veio me contar indignado que por causa ,
"dessas mães solteiras" ele tinha que ficar até tarde, esperando elas
irem buscar os filhos na escola... Porque se elas tivessem marido não teriam
que trabalhar até tarde e buscariam seus filhos na hora certa. Interessante que
em nenhum momento ele criticou o pai das crianças por não terem assumido os
filhos, e o pior criticou uma mãe que sozinha cuida dos filhos e se desdobra em
mil para " dar conta do recado".
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domingo, 15 de novembro de 2015
Em Porto Alegre, campanha contra racismo estampa ofensas próximo de casa dos autores
Do G1
"[...] Usando ferramentas de rastreamento, a ONG conseguiu localizar não só a cidade de origem dos comentários, mas o endereço aproximado de onde as mensagens foram escritas. Com esses dados, os organizadores procuram espaços publicitários próximos aos autores. Na capital gaúcha, há placas na Praça Comendador Souza Gomes (no bairro Tristeza), e nas avenidas Brasil, Belém, Aureliano de Figueiredo Pinto e Carlos Barbosa.
As consequências reais nas vítimas do racismo cometido na internet são facilmente observáveis. Por isso, uma das metas da campanha é alcançar os algozes. “Nossa expectativa não é ver racista na cadeia, mas que o racismo não aconteça”, explica a médica carioca Jurema Werneck, 53 anos, integrante da ONG Criola.
“É um alerta. Normalmente, quem faz esse tipo de comentário está em casa ou no escritório, se sentindo confortável e protegido, acreditando no anonimato”, argumenta Jurema. O objetivo deixar claro que o autor o insulto virtual também faz parte do mundo real de quem comete a injúria. “Nossa campanha mostra que é fácil detectar a origem e levar o comentário para perto da pessoa” [...]".
A notícia completa se encontra aqui.
"[...] Usando ferramentas de rastreamento, a ONG conseguiu localizar não só a cidade de origem dos comentários, mas o endereço aproximado de onde as mensagens foram escritas. Com esses dados, os organizadores procuram espaços publicitários próximos aos autores. Na capital gaúcha, há placas na Praça Comendador Souza Gomes (no bairro Tristeza), e nas avenidas Brasil, Belém, Aureliano de Figueiredo Pinto e Carlos Barbosa.
As consequências reais nas vítimas do racismo cometido na internet são facilmente observáveis. Por isso, uma das metas da campanha é alcançar os algozes. “Nossa expectativa não é ver racista na cadeia, mas que o racismo não aconteça”, explica a médica carioca Jurema Werneck, 53 anos, integrante da ONG Criola.
“É um alerta. Normalmente, quem faz esse tipo de comentário está em casa ou no escritório, se sentindo confortável e protegido, acreditando no anonimato”, argumenta Jurema. O objetivo deixar claro que o autor o insulto virtual também faz parte do mundo real de quem comete a injúria. “Nossa campanha mostra que é fácil detectar a origem e levar o comentário para perto da pessoa” [...]".
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quinta-feira, 29 de outubro de 2015
Ao lado, tão longe
- "Nunca fui reconhecida pelo meu trabalho" (do Jornal do Campus, n.448, outubro de 2015)
[...] "Há dez anos na Engenharia Politécnica, Rute conta que não
são só os alunos que desrespeitam os faxineiros. “Uma vez, um professor
foi reclamar comigo se não tinha um outro horário para eu limpar o
banheiro, porque ele queria usá-lo. Eu falei: ‘não tem outro horário.
Tem esse. Se não quiser, vai ficar sujo’. A gente também tem hora de ir
embora. Já ganhamos uma miséria, não ganhamos hora extra para isso e
vamos ficar até a hora que eles querem?”. Ao menos, Rute comemora o fato
de não ter recebido o “presente” que uma colega de trabalho recebeu. Há
uns meses, uma menina da limpeza viu uma caixa de papelão em formato de
presente que foi deixada em cima de uma mesa em uma sala de aula que
estava para ser limpa. “Ela pensou que tinham deixado uma surpresa pra
ela. Quando abriu, tinha merda dentro. Aqui, é uma humilhação total”,
afirma.
Oziel ,também funcionário da Poli, trabalha na portaria da
faculdade e conta: “Alguns alunos tratam você como pessoa de segundo
escalão. De dez pessoas, apenas uma dá um ‘bom dia’. Quem me cumprimenta
geralmente são aqueles que vêm de uma classe social mais baixa, ou que
vêm do interior. A relação da maioria deles é a seguinte: ‘Eu sou
superior e você que se dane’. Quem trabalha é praticamente uma pessoa
invisível”".
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quarta-feira, 14 de outubro de 2015
pelos portais de notícia
- Pichação racista é encontrada em banheiro do Mackenzie
- Mensagem racista é encontrada no banheiro do Mackenzie: "Lugar de negro é no presídio"
- Professora vítima de racismo leva discussão de direitos para sala de aula
- Mensagem racista é encontrada no banheiro do Mackenzie: "Lugar de negro é no presídio"
- Professora vítima de racismo leva discussão de direitos para sala de aula
domingo, 13 de setembro de 2015
Alunas de medicina fazem blackface e ironizam: "inclusão social"
A matéria completa você encontra aqui.
sábado, 12 de setembro de 2015
Sobre "Que horas ela volta?"
Dois posts:
- Que horas ela volta e os sonhos da minha mãe para mim
- Eu fui a filha da doméstica que entrou na Universidade
- Que horas ela volta e os sonhos da minha mãe para mim
"Embora bolsista do Prouni, eu só ingressei e permaneci na
universidade porque dona Luzia sempre esteve na dianteira de minha vida,
financeira ou emocionalmente. Porque ela me levava às 6h no ponto de
ônibus para ir à escola técnica, nas ruas sem iluminação de Perus. E
durante o ensino fundamental. E antes – até – quando, aos seis anos de
idade, foi de sua camisa rosa que li a primeira palavra de minha vida –
PA-KA-LO-LO – após ela brincar comigo de escolinha, ensinando-me as
vogais.
Sei bem que muitas amigas de minha mãe não puderam estar presentes na
vida de suas filhas como gostariam. Assim como Val no filme, para que
tivessem uma vida melhor que a delas, essas mães – sempre doadoras de si
próprias- abrem mão da maternidade com o coração nas mãos, mas com o
sonho de que suas crias serão maiores que elas puderam ser" (Jéssica Moreira).
"Eu fui a filha da doméstica que entrou na Universidade. Por muito
tempo isso foi motivo de vergonha e angústia. Por muito tempo eu menti
sobre o que minha mãe fazia e onde eu morava. Quando me perguntavam eu
desconversava, já tinha decorado todo um texto a depender da ocasião: “ela vende roupas, ela traz coisas do Paraguai, ela vende cosméticos”.
Mentir passou a ser uma constante para negar a minha realidade e me
afastar da pobreza e negritude. Eu não queria ser fracassada e nessa
sociedade você aprende que não ter, não possuir é ser fracassado. Só não
é ensinado o que foi tirado e sequestrado de você. [...]
Demorou para que eu compreendesse que meu sofrimento era fruto da
desigualdade e não da incapacidade da minha mãe em me garantir uma vida
confortável. Por muito tempo eu odiei minha mãe e tive repulsa da pessoa
negra e pobre que ela era. Por muito tempo eu odiei minha mãe e tive
repulsa da pessoa negra e pobre que ela era. Por muito tempo eu odiei
minha mãe e tive repulsa da pessoa negra e pobre que ela era. Eu repito
porque muitas foram as vezes em que eu fui violenta, arrogante e me
envergonhei da mãe que eu tinha. Isso é o que uma sociedade desigual faz
com seus oprimidos, filhos culpabilizarem suas mães por sua pobreza e
miséria. Filhos odiarem suas mães por não darem conta ou compreenderem a
desigualdade.
[...] Vocês, [meus] amigos, tem uma importante contribuição para aquilo que me
envergonhava se tornasse orgulho, e sobretudo para que eu me permitisse
amar e admirar minha mãe da forma preta e pobre como ela é. Eu demorei
quase trinta anos pra amar e admirar minha mãe preta e pobre porque ela
personifica o que é considerado fracasso numa sociedade desigual: a
mulher negra, pobre e periférica que se ocupa do trabalho doméstico.
A desigualdade também sequestra nossa possibilidade de amar". (Xênia Mello)
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