Quando foi indicado na disciplina para relatarmos situações
que vivenciássemos ou observássemos no nosso cotidiano sobre o preconceito, a
minha primeira percepção é que apesar de saber que isso é rotineiro, eu não
reparo tanto nas coisas que acontecem ao meu redor; logo registrar isso me
pareceu uma imensa dificuldade.
Primeiro pensei em coisas que já tinha vivenciado, inclusive
antes da disciplina. Me vieram à mente duas situações em escolas, uma
particular de classe alta e outra uma escola pública que atendia crianças de
classe baixa; as duas foram em momentos de estágio de observação. A primeira
foi na Educação infantil: a professora lia uma história do Sitio do Picapau
Amarelo e, no momento em que apareceu
escrito “preto” se referindo ao tio Barnabé, a professora perguntou para
as crianças se elas sabiam o que era preto? Antes que as crianças se
manifestassem a professora disse que preta era a cor da pele do Barnabé que era
igual a da pele das babás deles (!), em seguida prosseguiu contando a história.
A segunda situação foi referente a um projeto de uma escola
pública com o 5º ano do Ensino Fundamental I, o projeto se chamava identidade,
e uma das principais formas de registro era o próprio desenho das crianças -
inclusive cartazes que eram espalhados pela escola. O que chamava a atenção é
que em uma escola em que a maioria das crianças eram pardas e negras, nenhuma
se pintava dessas cores, só era usado o rosa claro - chamado por muitas pessoas
ainda hoje como “cor de pele”. Isso pode fazer pensar em uma problematização
muito maior, mas um ponto positivo é que as crianças já se viam com cabelos
crespos e cacheados, por exemplo.
Falando em cabelo, recentemente estava com uma amiga e um
conhecido dela passou e disse “agora
você vai deixar o cabelo duro igual sua mãe?”. Ela está deixando o cabelo
natural agora e ouviu frases do tipo várias vezes.
Uma das situações que são comuns, inclusive na internet, é a
frase “não sou suas negas”, usada normalmente por muitas pessoas em diversos
lugares.
Podemos ver que o preconceito é muito presente, mas o pior é
que é tão naturalizado e repetido que até pessoas que são contra e pensam a
respeito, podem se ver reproduzindo algum tipo de preconceito: precisamos mudar
e principalmente nos vigiar sempre.
- Estava almoçando com um colega de trabalho, quando
conversávamos sobre o desrespeito/mal humor de algumas pessoas que nem bom dia
falam, quando meu colega do nada falou: - O pior é saber que muitas vezes te
evitam por que você é negro. Perguntei para ele se era muito evidente isso e
ele disse: Quando você senta em um ônibus e todos os bancos são ocupados exceto
aquele do seu lado você acaba notando…
- Poucos dias após ter raspado o cabelo, pois não tive
paciência para fazer a transição capilar. Deparei-me com uma pergunta de uma
educanda da sexta série do Ensino Fundamental, “prô, qual o nome desse corte de
cabelo?”. Respondi que não tinha nome,
que apenas havia raspado para deixar crescer sem química. Foi quando, Fernanda,
esse é o nome dela, me disse que também estava parando com a química. Apesar da
pouca idade, Fernanda é muito madura, politizada e antenada. Essa conversa
aconteceu no segundo semestre do ano passado e hoje Fernanda é dona de um Black
Power lindo! Identifica-se com a cultura de seus antepassados e sempre se
destaca na sua turma. Por isso mesmo, acho que me doeu anda mais do que já
doeria saber que ela passou por uma situação de racismo. E o pior de tudo é que
essa situação aconteceu em nossa escola, com colegas de escola e de bairro. Após a sala de
Fernanda ter vencido um campeonato de queimada, o qual ela só participou como
torcedora. Fernanda ouviu da torcida do primeiro ano do Ensino Médio, que tinha
“cabelo de favelada”, “cabelo duro”. Eu não estava na escola naquele período,
mas tentei pelo mesmo conversar com ela. Os alunos não foram identificados
(?!). Mas. Um trabalho está sendo feito. Revoltante! Decepcionante! Fernanda
continua forte, no fundo sabe que essa infelizmente, não será a última vez em
que terá de enfrentar a ignorância alheia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário